quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Coisa Ruim:O Maior Truque Do Diabo E Fingir Que Nao Existe.


Excelente produção portuguesa, Coisa Ruim merece alguns elogios logo de cara. Afinal, filmes de mistério/terror/suspense nunca foram tradição lá pelas bandas dos nossos irmãos lusitanos. Assim como no Brasil, o cinema fantástico sempre foi marginalizado, deixado de lado, cedendo espaço para um cinema mais intelectualizado (filmes supostamente inteligentes feitos para um nicho de chamados “intelectuais”). Não que falte capricho em Coisa Ruim, aliás, muito pelo contrário.
Felizmente os estreantes Tiago Guedes e Frederico Serra (vindos do mercado publicitário) arriscaram-se por um caminho menos seguro, e ao invés de um drama ou de uma comédia, resolveram filmar um suspense com toques sobrenaturais. Acabaram recompensados com o reconhecimento do público e da crítica portuguesa. Coisa Ruim não é exatamente uma obra-prima, mas pode ser encarado como um pequeno marco, comprovando que é possível rodar, fora dos Estados Unidos, um filme com temática sobrenatural que se leva a sério.
O roteiro original de Rodrigo Guedes (jornalista e irmão de Tiago) discute de forma inteligente os limites entre a superstição – vale aqui lembrar que Portugal é um país extremamente católico – e a razão. Os acontecimentos sobrenaturais são tratados de forma cética durante o desenrolar da trama até o momento em que os fatos violentamente se impõem, num desfecho pra lá de sombrio.
O pesadelo da família portuguesa começa quando o patriarca decide abandonar Lisboa e mudar-se para um velho casarão recebido como herança, localizado em uma aldeia no interior do país. Mesmo contrariados, mãe e filhos aceitam deixar a cidade grande, já que o pai, um biólogo, insiste que a mudança de ambiente fará bem a todos. Chegando ao local, eles encontram pessoas cujos hábitos se baseiam em crendices e lendas locais. Uma destas antigas histórias diz respeito ao misterioso passado da família que habitava a casa para qual acabaram de se mudar.
Destaque para o cenário amedrontador e claustrofóbico formado pelo casarão aprisionado em meio a um enorme bosque. A atmosfera de tensão e horror é construída de forma progressiva: o isolamento da família, a estranheza diante de um modo de vida totalmente novo, vozes e ruídos inexplicáveis, aparições quase imperceptíveis que aos poucos vão revelando o inevitável.
Na maior parte do tempo, Coisa Ruim não se decide entre as explicações naturais ou sobrenaturais, mas surpreende pelo final intenso e perturbador. E ainda que não seja um horror exagerado em cenas explícitas, ele ousa abordar temas mais agressivos como possessão, loucura, incesto e a morte de crianças.
Coisa Ruim foi indicado aos prêmios de melhor filme nos Festivais de Sitges (Espanha, 2006), Fantasporto(Portugal, 2006) e Coimbra (2007). Neste último sagrou-se o grande vencedor, com os prêmios da audiência e o de melhor produção do festival. Mas infelizmente, o filme ainda permanece inédito nos nossos cinemas. É aguardar a boa vontade das distribuidoras brasileiras, que insistem em infestar as locadoras com qualquer lixo, desde que seja made in USA.

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