Felizmente os estreantes Tiago Guedes e Frederico Serra (vindos do mercado publicitário) arriscaram-se por um caminho menos seguro, e ao invés de um drama ou de uma comédia, resolveram filmar um suspense com toques sobrenaturais. Acabaram recompensados com o reconhecimento do público e da crítica portuguesa. Coisa Ruim não é exatamente uma obra-prima, mas pode ser encarado como um pequeno marco, comprovando que é possível rodar, fora dos Estados Unidos, um filme com temática sobrenatural que se leva a sério.
O roteiro original de Rodrigo Guedes (jornalista e irmão de Tiago) discute de forma inteligente os limites entre a superstição – vale aqui lembrar que Portugal é um país extremamente católico – e a razão. Os acontecimentos sobrenaturais são tratados de forma cética durante o desenrolar da trama até o momento em que os fatos violentamente se impõem, num desfecho pra lá de sombrio.
O pesadelo da família portuguesa começa quando o patriarca decide abandonar Lisboa e mudar-se para um velho casarão recebido como herança, localizado em uma aldeia no interior do país. Mesmo contrariados, mãe e filhos aceitam deixar a cidade grande, já que o pai, um biólogo, insiste que a mudança de ambiente fará bem a todos. Chegando ao local, eles encontram pessoas cujos hábitos se baseiam em crendices e lendas locais. Uma destas antigas histórias diz respeito ao misterioso passado da família que habitava a casa para qual acabaram de se mudar.
Destaque para o cenário amedrontador e claustrofóbico formado pelo casarão aprisionado em meio a um enorme bosque. A atmosfera de tensão e horror é construída de forma progressiva: o isolamento da família, a estranheza diante de um modo de vida totalmente novo, vozes e ruídos inexplicáveis, aparições quase imperceptíveis que aos poucos vão revelando o inevitável.
Na maior parte do tempo, Coisa Ruim não se decide entre as explicações naturais ou sobrenaturais, mas surpreende pelo final intenso e perturbador. E ainda que não seja um horror exagerado em cenas explícitas, ele ousa abordar temas mais agressivos como possessão, loucura, incesto e a morte de crianças.
Coisa Ruim foi indicado aos prêmios de melhor filme nos Festivais de Sitges (Espanha, 2006), Fantasporto(Portugal, 2006) e Coimbra (2007). Neste último sagrou-se o grande vencedor, com os prêmios da audiência e o de melhor produção do festival. Mas infelizmente, o filme ainda permanece inédito nos nossos cinemas. É aguardar a boa vontade das distribuidoras brasileiras, que insistem em infestar as locadoras com qualquer lixo, desde que seja made in USA.
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